Colorindo as páginas do desasocego*, um dia no quotidiano de Bernardo Soares


«(...) Do que sou numa hora, na hora seguinte me separo; do que fui num dia no dia seguinte me esqueci (...)».







*: na grafia antiga.

Montanha (em progresso)

Mountain top


«On top of a mountain top 
I stoop and thought one day
I could really see a lot
And if I had my way

A lazy young sod I was 
So deep in love those days
As if there was nothing was
But only love I crave 

And so I didn't know as much 
Her loving touch amazed
I was so gone with love
The alphabet was a haze 

So alone as she pulls away
The funeral truck I cried
I gazed the clouds disappear
Like a Lost Christmas that day 

And now I can't seem to cope 
But only hope - it be okay
Just to see her again
and we could be friends like way back when 

It's as if I'm already dead 
And in my grave I lay
If only her love could save me now
And if some how she'd stay»



Daniel Johnston
Começo agora a pintar as páginas do desassossego... Terminadas as 300 meias páginas que compõem a biografia de F.P. propriamente dita, abre-se agora um espaço para contar (sem palavras) um dia no quotidiano deste semi-heterónimo de Pessoa, o Bernardo Soares.
As cores serão as do tédio (assim como do tédio é a vida).

(Bernardo Soares, no seu quarto ao amanhecer, depois de uma noite de insónia).

«Sou altamente sociável de um modo altamente negativo. Sou a inofensividade encarnada. Mas não sou mais do que isso, não quero ser mais do que isso, não posso ser mais do que isso.»

(Excerto de um excerto do L do D, de Bernardo Soares, datado de 18-9-1931.)

Aos pares que, falando a mesma lingua, na sua oposição são complementares.


...Como a noite faz o dia.
(Díptico, óleo s/tela e contraplacado, 2001)