Acontece-me, com alguns desenhos que faço, vê-los mexerem-se como se fosse um filme que estivesse a ser projectado na minha cabeça. Não é o caso deste.

« Sacrifício»

O livro "Esculpindo o Tempo" de Andrei Tarkovsky é para mim um verdadeiro tratado da arte, da vida, da poesia, e também do cinema. Reflexões, ideias, como a natureza profética do artista e daquilo que consegue exprimir por meio do mistério que é a poesia/arte, de uma ante visão, que surgem acompanhadas de poemas, como este que segue, de Pushkin...

Cansado da fome espiritual 
Em meio a um deserto triste meu caminho fiz,
E um anjo de seis asas veio a mim
Num lugar onde havia uma encruzilhada.
Com dedos leves como sono
Tocou as pupilas de meus olhos
E as minhas proféticas pupilas abriu
Como olhos de águia assustada.
Quando seus dedos tocaram os meus ouvidos
Estes encheram-se de rugidos e clamores
E ouvi o tremor do céu
E o voo do anjo da montanha
E animais marinhos nas profundezas
E crescer a videira do vale.
E, então, pressionou-me a língua pecadora,
E todas as malícia e palavras vãs,
E tomando a língua de uma sábia serpente
Introduzi-a na minha boca gelada
Com a sua mão direita encarnada.
Então, com a sua espada, abriu o meu peito
E arrancou-me o coração fremente,
E no vazio do meu peito colocou
Um pedaço de carvão em chamas.
Fiquei como um cadáver, deitado no deserto,
E ouvi a voz de Deus clamar:
"Levanta-te, profeta, e vê e ouve,
Sê portador da minha vontade - 
Atravessa terras e mares
E incendeia o coração dos homens com o verbo."
1826,

... que me acompanham...